domingo, 26 de outubro de 2014

A PARÁBOLA DOS BOTÕES



Quero falar sobre o risco.

Sabe aquele momento em que a beleza do risco é maior que a segurança? E que a prudência deixa de ter graça e você arrisca compulsivamente pois este risco dá o prazer que você precisa, e ganhar ou perder já não tem tanta importância assim?

Tenho um irmão mais velho com quem aprendi os segredos desse futebol imaginário, com o cover de Valdir Amaral durante as partidas que invariavelmente ele fazia questão de narrar. Já que a onda agora é estatística, acho que eu conseguia ganhar uns 15% das partidas contra ele em "campeonatos" em que usávamos times com botões diferentes - tínhamos muitos. Mas aí ele casou e paramos com a pelota, dadinho, botãozinho e coisa e tal e o que me restou eram partidas contra meus colegas de escola.

Fiquei lembrando desse período quando eu jogava com a molecada. Entendo agora porque 85% das vezes ele me ganhava, e porque 85% das vezes eu ganhava dos moleques da escola.

Durante muito tempo treinei fraternalmente com um jogador muito mais veloz do que eu. Ele executava três ou quatro vezes mais chutes que qualquer outro adversário que já tive. Peguei a manha e passei a fazer o mesmo. Não havia distância, bola perdida, sem jeito, ângulo errado, dedinho para ajudar, palheta secreta. Eu fazia muito mais gols que os outros. Minha chegada ao gol eram muito mais rápidas e em muito maior quantidade que a dos adversários. As palhetadas eram muito menores e mais objetivas que o tec-tec dos outros moleques. É lógico que eu também perdia. Mas nos campeonatos eu era "o cara" que os adversários paravam para assistir.

"Prepara"
"Esse chute é impossível !"
"Prepara"
"Preparado"
"Tec... ssssssss"
E o toque de casquinha na lateral do botão encaminhava a bola por cobertura nos goleiros feitos da caixa de fósforo, chumbo e madeira, descrevendo a parábola que morreria no fundo das redes adversárias...
"É Rede !"
"Que isso...?!"

O volume de jogo que meu irmão fazia comigo e eu fazia com a molecada era o fator decisivo para mais vitórias. 

Na adolescência, na escola estadual pela qual passei, com a libido exacerbada de todos os "machos adolescentes  espinhentos entumecidos" por qualquer coisa que se mexesse e usasse saias, minissaias, shortinhos, calças de lycra (era moda!) ou algodão, quando meus colegas de escola diziam: cara, aqui tem muita garota feia! O que não excluía que existissem as bonitas de bom coração. Então eu respondia: O importante é que tem muitas ! A quantidade acaba gerando a qualidade. É só escolher direito... E arriscar ! Naquela época, dava certo.

Mais tarde e já adulto, meu velho pai, hoje no céu, entrou no ramo da camelotagem. Muito trabalho, muito suor, muito risco. Chegou a ter três bancas com produtos completamente diferentes. A variedade e quantidade dos produtos que ele vendia davam-lhe um reforço financeiro constante. Comprava muito, de forma variada, vendia muito e tinha um bom lucro no final de cada dia. Investia todos os dias. Gerava resultados todos os dias.

Dessas coisas todas, fico pensando que a gente não precisa fazer as coisas sempre do mesmo jeito. A menos que queira ter os mesmos ou menores resultados. 

Vale a pena arriscar. E arriscar muitas vezes! Tentar a jogada que ninguém tentou por medo de errar. Vale tentar o chute impossível. Aquele que só você poderia fazer...
Tec... ssssssss


Ah! Quem estiver afim de uma partida de botão, é só chamar...


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