Bolero (2a. parte)
Em torno dela um festim que não lhe agradava. Ao seu lado dois homens conversavam a respeito da caixa de um uísque qualquer que chegaria para um deles na manhã seguinte. O celular de um dos dois tocou, então este pediu licença dizendo que detestava este incômodo da tecnologia e os dois riram sem vontade. “Alô...”
Ela afastou-se do grupo.
Do outro lado alguém a observava durante toda a noite. Cabelos pintados e vestido branco com muita lasi. Magra e sem pintura, somente um batom bem vermelho. Não tinha rugas aparentes. Circundou o salão vagarosamente até que seus olhos se cruzaram ao dela.
Ela desviou olhar enquanto o da mulher vestida de branco o seguia. Sentiu-se vigiada e não gostou da sensação. Saiu do salão até outra sala vazia de convidados mas apinhada de livros sobre prateleiras que vinham do teto até o chão em quase todo seu perímetro. Havia ainda uma enorme mesa, uma cadeira de madeira no centro e duas poltronas de couro rústico contrapostas sobre uma tapete de peles. No centro de uma das paredes um quadro da mulher que vira a pouco.
No meio destes livros, sentiu-se segura.
Fechou a grande porta do cômodo que invadira, sentou-se numa das poltronas, recostou a cabeça lateralmente e fechou os olhos. Podia ouvir um antigo bolero cantado em espanhol que vinha do salão e o barulho dos outros convidados. “Bolero é estar só”, pensou. Sentiu uma mão sobre seu ombro.
- Está esperando alguém?
- Está esperando alguém? - Assustou-se. Não podia ver ninguém.
* * *