"Você anda quieto demais", me disseram dia desses. Levei em consideração como um elogio. Quem aquieta ouve. Quem só grita não percebe os sons ao seu lado. E o debate só tem sentido quando o tema abordado não é uma mentira ou estupidez.
Li um texto do Anderson França - busca no FB, o texto é bom - jornalista que hoje vive fora do Brasil, em subemprego na Europa, e de quem vez por outra, compartilho outras percepções mais exaltadas ou verborrágicas. O texto dava parabéns ao ex-presidente FHC por seu aniversário, mesmo ele sendo divergente a seu governo e tendo falado ao próprio, durante uma entrevista, que chegou a levar um ovo para jogar em sua cabeça quando ainda era estudante em determinada ocasião. Tempos depois o já ex-presidente aceitou um convite para participar voluntariamente de uma palestra promovida pelo jornalista em apoio à um evento na Maré. Até hoje ele diverge muito, mas respeita. Dialoga. Esse texto me fez pensar sobre o parágrafo que escrevi acima.
Há os que compartilham de um senso comum; os que estão "fechados" em uma bolha prestes a sufocar sem perceber; e ainda há aqueles(as) cuja pesquisas recentes definiram como a "Glória Pires no Oscar" - lembram dela, não?!
Todos parecem estar em trincheiras com três metros de altura. As granadas explodindo, os foguetes passando por cima e ninguém se ouve, só às explosões e gritos.
Talvez um minuto de silêncio para cada mil pessoas mortas pela peste fará com que todos ouçam primeiro a si mesmos e reflitam palavra por palavra do que dizem.
Se essas palavras fazem sentido com a pessoa que você era - seus valores, respeito à vida, dignidade e fraternidade - ou hoje é só uma repetição imbecil do que te mandaram pelo WhatsApp ou de algum tiozão idiota que vomita em redes sociais, pois você sente cansaço, tristeza e preguiça demais para pensar e a forma de conceber uma ideia é conceder que o outro responda por você. Isso te dá o sentimento de pertencer a algum lugar, gritando o que te mandaram, mesmo que você não concorde muito com o que grita e que esse lugar nem seja tão legal assim.
Veja, a proposição não é pensar igual a este ou àquele, mas simplesmente pensar, e desta vez por si mesmo(a). Nesses tempos barulhentos e estranhos, tenho parado e não tenho reconhecido muita gente. O que é uma pena.
Quando esse silêncio e reflexão forem feitas, talvez eu consiga parar e conversar, mesmo que sejamos divergentes.
Este não é o momento.