quarta-feira, 15 de julho de 2020

GENTE QUE DEIXA PARA DEPOIS...


Sinto um desconforto enorme com gente que deixa para depois. Não, não são os procrastinadores de trabalho, estudo, obrigações. São os procrastinadores de vida ! Você deve conhecer alguém assim. Gente a quem a vida propõe a limonada pronta e ela ainda quer ficar espremendo os limões. Gente que se ocupa demais ou se desocupa demais e em nenhum dos casos se deixa ser feliz.

“Vamos ver o sol nascer?” “Amanhã? Amanhã estou ocupado. Quem sabe depois...” Não que ver o sol nascer seja tão importante assim. Para você que entende tudo ao pé da letra, foi uma metáfora – o que no caso já é uma nova metáfora. E de metáfora em metáfora, essa gente deixa sempre para depois. Vivem num eterno estado denotativo, quando o mundo ao seu redor lhe pede para ser conotativo. Seguem a vida na dependência de consumir o próprio tempo levando o mundo nas costas e se esquecendo de  “ser”. 

Lembro que sempre dormia tarde para aproveitar a vida. E acordava tarde para ter energia para poder ficar até mais tarde acordado. Às vezes mais tarde era mais cedo para muitos. Não faz bem a saúde, mas aí é um papo para outra ocasião... 

Essa gente que deixa para depois, segue as regras, onde o tempo não pode nunca ser desperdiçado com nada que não seja uma “real” ocupação. Estão prontos para fazer tudo para “se livrar logo” - como dizem – para depois não fazerem absolutamente nada que dê prazer real, mas sim buscar outra coisa para “se livrar logo”. Não, não sou exatamente um hedonista. Prazeres são muitos, igual receita de Neston - cada um tem a sua. Mas acho muito estranha essa gente que deixa para depois.

Veja como são dúbias as pessoas que deixam para depois: querem fazer tudo o mais rápido possível e acabam por "deixar-se" para depois... 

Talvez elas sequer percebam que estão deixando para depois as coisas que de verdade importam e que jamais conseguirão recuperar, pois faltará tempo, faltará gente para compartilhar, faltará vida para deixar para depois.



sexta-feira, 10 de julho de 2020

"RISCO DE POETA É POESIA"



Em minhas incursões pela poesia, faz muito tempo, saindo de uma grande confusão que a vida em alguma hora nos coloca, decidi experimentar, sem compromisso e a toque de caixa essa poesia doida, urgente, e sem direção. 

Hoje entendo que, naquele momento, era o que se fazia necessário e fazia total sentido. Não era pela "arte"... Sempre fui arteiro - um arteiro sonso ;-) - era absolutamente pela atitude.

Agora, revendo o que fiz, escolhi o trecho inicial e adaptei/modifiquei uma palavra aqui e outra ali para dar-lhe melhor velocidade e fazer dizer exatamente o que quis dizer.

O poema completo, sem essas pequenas alterações está no meu livro Erogenia.


O que importa é a produção ! (fragmento 2020)


O que importa é a produção / preencher todos os espaços vazios / a qualquer custo / não importando / se estamos fartos por dentro / a visão / a mensagem / tem de ser transmitida / seja qualquer a forma / engolir o globo ocular / calcular perfeitamente o que dizer / enegrecer o branco da folha de papel / fazer verso / cordel / dançar sobre a máquina / lançar sobre o parágrafo um olhar curioso / “parágrafo : você está errado” / sempre dizer o que deve ser dito / parodiar situações grotescas / situar-se na falta de lugar / lotar o Maracanã / enchê-lo de palavras / desafio ímpar / catalogar / procurar a si mesmo no dicionário / atravessar essas polegadas / como se atravessa a Belém-Brasília enquanto escreve / formar uma... / não! / diversas famílias / saber que os versos estão certos / semi-metrificados / calcados em amparo legal / Digerir palavras ?/ Jantar a crônica diária? Talvez... / tomar banho / Sim, mas não, não parar / Fumar um king size (melhor  não) / achar interessante e não estressante /aquilo que nunca viu / engarrafar o trânsito / no meio do caminho / Não pegar a pedra / manter o ritmo / não perder o fôlego / correr de qualquer jeito / sentir dor no peito /mas continuar a correr / fazer cara feia / torcer o nariz / mas ler, gostar,  pedir bis / repetir a rotina sem ser redundante / mas ainda assim achar interessante / sinta-se num cofre de banco / sinta-se em Madureira / sinta-se num armário embutido /sinta-se na Rio Branco / Mas sair do lugar comprimido / e ser livre sem medo do risco / Pois risco de poeta é poesia/ e com ela é que a gente é feliz.