quarta-feira, 21 de abril de 2021

BISCOITO

 


Minha cabeça, imensa por natureza, me trai vez ou outra. Agora mesmo, enquanto tomo um café preto na caneca preta de ágata, estou tentando lembrar quem escreveu uma crônica que dizia que "velho gosta de comer biscoito. Como comem". Rubem Braga, Veríssimo, Millôr,... não lembro bem. Mas já não lembro bem de muita coisa mesmo. Tornei-me o velho da crônica. Bom, nem tão velho assim. Convenço a mim mesmo que cinquenta é o novo quarenta, só que toda manhã a penugem prateada da minha barba nasce pronta para ser extirpada pela lâmina.

Mas têm umas coisas que lembro bem, sobretudo sabores. Enquanto sintomas de Covid-19 e a própria não me atingirem - pausa para bater na madeira * * * - sinto e lembro dos mais variados sabores. Inclusive de como eram bons os biscoitos de maisena da embalagem vermelha, o passatempo da embalagem azul - aquele que vem com o bichinho desenhado - e aquele que era uma unanimidade: o saboroso biscoito de leite maltado da vaquinha! Que delícia ! Lembram sabores da infância.

Mas, hoje não. Hoje não? Hoje não ! Descobri meses atrás que passaram a ser fabricados com gordura transgênica. Não vou entrar na seara da saúde, se fazem mal ou não. De verdade: não me interessa. Como “podrões” por aí desde criança e tô de boa por aqui até hoje...

Interessa é que passo um café fresquinho, boto na caneca e coloco a ponta do biscoito pra molhar. Quando vou comer parece que o biscoito veio queimado da fábrica. Uma bosta !

Então, se você conhece alguém que trabalhe na produção desses biscoitos, avisa lá no setor de desenvolvimento que um consumidor e crítico voraz desses produtos deixou de seguir, parou de comprar e "descurtiu" bloqueando.

Sigo tomando meu café preto na caneca preta - mas sem molhar o biscoito - enquanto não se metem a besta com ele. E nem queiram, senãããão... 

quarta-feira, 7 de abril de 2021

LUTO

LUTO

Antigamente eu ficava pendurado em redes sociais para tentar algum tipo de comunicação pertinente. Hoje em dia, "pingo" aqui e ali, dou uma olhada e saio em seguida. O ambiente está carregado demais. A vida está sendo carregada demais. A morte está presente o tempo todo e estou praticando esquiva à base de máscara e álcool em gel.

Hoje entrei, e na parte de stories apareceram duas dúzias de registros de luto. Luto, luto, luto,...

Chegamos aonde ano passado sabíamos que estaríamos. É triste.

Sugiro que o substantivo usado de forma pertinente a demonstrar nossas tristezas, ausências, saudades, torne-se o verbo. Lute para que as pessoas se cuidem, lute por sua saúde, lute para que ações patéticas de aglomeração não aconteçam. Lute para que as pessoas que não tiveram acesso à informação ou aquelas que se afastam conscientemente da segurança por um motivo estúpido ou por uma "genocida orientação federal" não possam disseminar o desconhecimento.

Lute contra tudo isso ao invés de (depois da lambança feita) ficar escrevendo a palavra - que para mim tornou-se odiosa - "misericórdia", em post de rede social. Logo, lute também contra a hipocrisia. 

Se você, eu ou aquele(a) não usarem o verbo, permaneceremos no fúnebre e doloroso substantivo.