sábado, 27 de junho de 2020

FESTA JUNINA POÉTICA


ALDRIN E ROSINHA

Acordava cedo, cedinho, Rosinha
Moça caprichosa, trabalhadeira, 
sozinha..
Era moça bonita, não duvida!
Mas tanta boniteza, tinha uma certa tristeza.
Saudade do que não pôde 
pois não tinha tempo pra amar, 
só trabalhar...

Ia à lida cedo, cedinho, Rosinha
Calada, esbaforida, sem pensar na vida.

Mas quando chegava junho 
se embelezava
Punha o melhor vestido

Vestida de musseline
Que costurou Dona Jaqueline
Disse que ia fazer sucesso e encontrar quem merecesse
seu coração na quermesse.
Não carecia nem prece pra acabar a solidão
e quem sabe, achar seu par.

Ela já agoniada palpitava em seu peito
Um coração sem jeito
São João não dava as caras
São Pedro ficava de longe
Santo Antônio nem ligava
O som da sanfona ficou raro
O coração ficou escuro

O seu fio de esperança
criança pedindo afago
Era um moço vindo de fora
Que lhe olhava com vontade
Em toda festa na cidade
Mas sem nunca lhe falar

Não sabia nem seu nome
Perguntou pra todo mundo:
"Era um tal desconfiado"
"Engenheiro da usina"
"Um tipo meio calado"
"Veio lá de Teresina"

Até que chegou "um acaso"...

Ele esbarrou-lhe o braço
E sorriu meio amarelo
"Desculpe linda moça.
Sou sujeito atrapalhado
Quando dei por mim
estava aqui admirado
Encantado em sua beleza
Mas seus olhos, de um raro
Não tem como não pôr reparo
No olhar, uma tristeza..."

Rosinha baixou os olhos
e seguiu o seu caminho

Ele de longe, embevecido
Na timidez que o afligia
Toda vez que via a moça
com vertigem de falar.
Agora que tomou coragem 
Não ia perder a viagem
Deixando a moça em outro rumo
quase a lhe deixar sem prumo 
Gritou de longe:
"Olhe moça, meu nome é Aldrin"

Sim !

Ela sorriu satisfeita, 
parou e voltou atrás.

E não sei se foi o começo...

Só agradeço essa história
Pois timidez é de longe
Mal que a muitos consome
Sensação sem glória. 
Mas quando se vence o medo

Têm-se muito a festejar.

Toque a vida sanfoneiro...
Pode tocar...



O CAUSO DO PADRE FESTEIRO

Vou te contá uma história
Então que a hora é chegada
Que o povo tá até esperando...

...e rindo, Nó'Senhor, lá em cima
pois Ele é bem humorado
Ma oceis tão aí brincando
E nem esperarum por ele
E é bom tomar cuidado
Pois eu sou "representante"
e nem por um instante 
se deve mangá com o sagrado !

Sou vigário desde a escola
Que só fez trupicá  na roda
Fiz farofa na sanfona
Já dancei com marafona
E já cantei muita moda
Nos arraiá afora à vida

Já teve graça, teve canto,
Teve até bebum chorando
fazendo vergonha nos canto 
por causa de muié sofrida 

Na zona
Tem raspaz que passa perfume
Tem moça que gira o vestido
Tem traçado com caipira virado
E tem troça com padre atrevido
Feito eu...

Antes do arraiá 
botei minha fantasia
pintei meus bigode de imberbe
e no caminho da folia
Encontrei casal na estrada
que parecia fugido
Mas como, com isso não tenho nada
Achei melhor "O calado"
Nesse caminho comprido.

Mas eis que chama a moça:
"Seu vigário vem cá.
Nós precisa de uma força,
pra mó da gente casá"

"Se por acaso o pai dela"
- Disse o cabôco assustado - 
"nos pega pelo caminho
Aí nóis tâmo lascado.
Casado, não pode fazê nada,
Pois aí o bem já está feito
E muito a gente se gosta
dá até aperto no peito."

Eu padre de mentira
Até gostei dessa prosa
Perguntei o nome dos dois
Ele, Aldrin, e Ela, Rosa

- Você, cabôco aceita essa Rosa
como legítima esposa?
Sim !!!!
- Você, cabôca aceita esse Aldrin
como legítimo esposo?
Taméin Sim !!!
Se no meio dessa picada
tem alguém que contrarie deles casá
Pode intão passá fora !
É meió chegá pra lá !!!

Pois como representante dessa igreja sagrada
Faço marido e muié 
e é meió cês pegá a estrada
senão o pai dela que te pega
e vai metê mais que a cuié !

E forum feliz para sempre
Um mintiroso fez um bein
Inté eu num creditu
Mas festejei isso taméin.

AMÉM !!

sábado, 20 de junho de 2020

PARASITA


Agora, o atual presidente - que continua sem trabalhar a não ser para si mesmo, bostejando provocações e ameaças a adversários dentro e fora de seu bunker - precisa administrar mais uma nova crise, desta vez causada pela prisão do assessor de seu filho, "administrador" financeiro no esquema das "rachadinhas" na ALERJ. "Queiroz, onde estais tu, Queiroz...?". Estava na casa, sabe de quem...(?) perguntaria Luis Roberto depois do gol: na casa do advogado da família "Bolso", Fred Wassef. O mesmo que tempos atras, dizia desconhecer seu paradeiro. Que pitoresco !

O arrotador da moralidade do "cidadão de bem", parece sentir "certo desconforto" com a situação. Em sua "live tradicional" das quintas-feiras argumenta que Queiroz resolveu permanecer em Atibaia pois estava em tratamento de um câncer que o acometera. Taokei, Messias... A conversa parece não ter adormecido os bois que agora estão cada vez mais propensos a abandonarem o pasto e definitivamente se convencerem que esse capim não é bom.

Se, e somente se, Jair"M"&"B" conseguir chegar ao fim de seu mandato e, conforme estabelece nossa Constituição, promover o escrutínio - sem intervenções antidemocráticas - da mesma forma com a qual for eleito, aguardo uma acachapante derrota eleitoral e moral que findará - para o bem da democracia - com uma carreira política insignificantemente estúpida de ideias, e que tem durado quase três décadas.

Três décadas de consumo do dinheiro público para nada. Absolutamente nada.

Um Parasita, em maiúsculo.

segunda-feira, 15 de junho de 2020

CÉSARES

Quando eu tinha treze anos, eu ainda nunca tinha brigado na rua. Diferente da molecada com quem eu andava, sempre fui o cara que separava. Um dia, provoquei uma briga só para saber como era. Acertei um soco e tomei uma gravata que encerrei após eu conduzir gentilmente meu adversário a alguns galões cheios de uma loja de tintas. Uma grande estupidez.

Meu filho já me observou, certa vez, que a Internet é um ambiente absolutamente tóxico. Sim, se tornou.

Estou certo que a comunicação entre o emissor e o receptor precisa ser clara, concisa, sob pena de levar seus interlocutores às interpretações que se baseiam somente no que está escondido em suas almas, muitas vezes beligerantes - a alma de um moleque de treze anos procurando briga. Procurando pelo em ovo.

Um campo de batalha sem fim, onde se buscam significados ocultos para apoiar a agressão e alimentar o ódio na rede. O "Veni. Vidi. Vici.", numa contínua Batalha de Zela.



Isso ocorre em TODOS os setores. Tenho percebido no campo político, onde se retroalimentam ; no espectro da cultura, onde pontos de vista não são respeitados ; entre pessoas comuns que assumem uma posição de embate eterno. Escrevi sobre isso tempos atrás em "Os Definitivos".

Na última semana tive acesso a um diálogo entre um pai de aluno e professores de uma escola pública de ensino médio onde uma pergunta do pai foi entendida como desrespeito à determinada professora e ele passou a ser atacado por outras professoras e pela diretora da escola num áudio absolutamente desproporcional e descabido. Não havia nenhum desrespeito no texto do pai. Mas o instinto bélico, a suspeita de uma mensagem subliminar, uma ironia maldosa, um estopim para o bate boca, parecem estar no espírito nefasto da Internet. Um despropósito.

Nessa pandemia, onde não se permite o cara a cara presencial, participei sábado passado de uma live poética e um de meus textos dizia: "me mandaram odiar você / pois tenho que apoiar a violência gratuita / ao invés da conversa franca e desarmada[...]/ não acato ordens".

Todos querem ser César nas redes sociais, ou, ao menos, um estúpido garoto de treze anos. 

sexta-feira, 5 de junho de 2020

DISTANCIAMENTO SOCIAL 2


Releio algumas coisas que escrevi nos últimos dias e percebo que ultimamente tenho uma certa angústia e urgência a respeito de pessoas. Um menino metralhado pelas costas em casa; milhares de vidas se perdendo a despeito de políticas e políticos sem sensibilidade e de extremo egoismo; um homem morto sufocado por outro homem que desejava demonstrar uma autoridade que não deveria possuir;...

Há sempre uma questão humana a ser resolvida. Nestes casos uma questão coletiva que interfere individualmente na vida de todos. Todas, sem exceção são como um soco no estômago. Todas são carregadas de imenso sofrimento, tristeza e revolta.

A última, das que sabemos, foi que Miguel Otávio, de cinco anos, foi deixado à própria sorte pela "patroa" de sua mãe para morrer despencando do nono andar de um prédio de luxo no Centro de Recife, enquanto sua mãe levava os cães de sua "patroa" para passear. A negligente "patroa" - Sari Corte Real - pediu à polícia que sua identidade fosse preservada após ser liberada ao pagar 20 mil reais de fiança. Seu nome é uma piada de extremo mal gosto.

Quanto pagaria a alguém para preservar a vida de uma criança? Não pagaria.
 
Ninguém deve morrer por negligência. Ninguém deve deixar de ser punido por ser rico.

Nos pedem distanciamento social para nos prevenir de um vírus. O distanciamento social sempre existiu entre o pobre, preto, empregado, e a elite, branca, abjeta. Esta distância não nos previne de nada, só nos afasta do que deveria ser nossa humanidade. Ao final desta pandemia, será imprescindível rompe-la.

Imprescindível.




quarta-feira, 3 de junho de 2020

A BLACK MAN



Na última semana mais um episódio deu visibilidade ao indisfarçável racismo das sociedades ocidentais. O assassinato de George Floyd, em Minneapolis, que foi sufocado por um policial que se manteve ajoelhado em seu pescoço por oito minutos enquanto suplicava por não poder respirar, foi - como deveria ter sido - o estopim para manifestações em vários locais dos Estados Unidos e pelo mundo. As imagens revelam que o homem, estava algemado e cercado por outros três policiais brancos que não fizeram nada.

No Brasil, dizem que este racismo é velado. Não, não é. A contar pelas estatísticas policiais, IDH, PIB, e demais fatores que fazem pesar esta balança somente para um lado. Aqui matam-se crianças pretas dentro de casa em comunidades pobres. As estatísticas dizem ainda que aqui as mulheres pretas não conseguem trabalho pois são, em sua maioria, pobres, sem formação, menores de idade e tem filhos pretos. Aqui, talvez como lá, nossos George Floyd's são vistos pelo "racismo velado" como alguém que pode oferecer perigo pois é pobre, vive em favela, mas sobretudo porque é preto.

Ontem um áudio de Sérgio Camargo, presidente da Fundação Palmares, organismo estatal que, tem como missão preservar os valores culturais, sociais e econômicos da etnia e sua influência em nossa sociedade, manifestou seu ponto de vista sobre o que acha de sua própria raça, chamando-a de "escória maldita". Só vejo valor na Fundação Palmares, em seu presidente não.

Hoje tomei um passa fora de uma pessoa por meu posicionamento indignado quanto ao racismo. A pessoa que me "passou fora" disse que eu era branco e brancos não podem reivindicar o "protagonismo" pelo papel da "sua raça". Tentei entender esta argumentação torta mas não consegui.

No meu DNA  de pai e mãe, avôs e avós, há uma mistura de várias etnias, logo, para mim não há motivos de distinguir-me. Sou somente um macaco que virou bípede, jogou o osso do tigre para o alto e hoje limpa a bunda com papel higiênico, como qualquer um que me lê - possua mais ou menos melanina - isso, de verdade não importa.  

Minha defesa, é como defender o cabelo "black power" do meu pai, que, assim como Crioulo (o cantor), era muito branco para ser chamado de preto pelos pretos, mas era preto aos olhos dos brancos. Brasileiros, somos essa mistura. Olho para meu rosto no espelho e vejo traços de pelo menos três etnias. Nenhuma delas deveria sobrepor à outra.

Não há - como não deveria haver em nenhum lugar do mundo - nenhum sentido para o racismo. Continuarei me opondo ao racismo e não há qualquer protagonismo nisso. Somos humanos.