sexta-feira, 16 de novembro de 2018

SOCIEDADE NOTA C

"Os porco tão pra ganhá mais um brasileirão, meu!!", gritam felizes os torcedores alviverdes de SP. Aos demais, sobram as lamúrias: "... se meu time isso, se meu time aquilo, se o juiz aquilo outro, se...". Sempre a aflitiva conjunção subordinativa causal que fode o planeta. A ideia do derrotado, em geral, é diminuir a competência do vencedor ou atribuir exceções como causa da derrota. Mas taí a "porcalhada alegre" (com todo respeito) com mais pontos, mais gols feitos, menos gols sofridos, mais vitórias, menos derrotas, passando por cima dos demais com o seu vitorioso vovô Scolari Sete a Um - porque depois do tombo, ele sabe, você limpa o joelho e segue adiante.

Minha filha é alguém muito capaz. Na escola recebe boas notas pois estuda mais, se empenha mais e é mais responsável. Outro dia, num trabalho de grupo, fez sua parte combinada com os outros e levou para aula. Eram cinco ou seis no grupo. Só ela fez sua parte, só ela apresentou, só ela falou chorando de raiva sobre o tema na frente da turma pois sabia que ganharia nota C. O choro virou chacota  dos indolentes, inclusive dos que não fizeram suas partes. A professora não analisou quem fez ou não fez. O importante é diminuir o trabalho na quantidade de correções e, a título de "desenvolvimento do espírito de integração, tria amada salve salve" nivelar todo mundo por baixo.

No quartel, me lembro que quando um errava na ordem unida todos pagavam com mais dez minutos marchando de coturno, gandola e FAO, no campo de futebol ao sol do meio dia. E eram muitos dez minutos que não me fizeram um pessoa melhor ou acrescentaram qualquer conhecimento à vida. Minto. Acrescentaram essa espécie de repulsa ao julgamento coletivo quando o erro é individual.

Quando um vândalo quebra um bem público (ou mesmo privado) ele não pensa no que ou em quantos vai afetar com sua estupidez. Ele só quebra por uma revolta injustificada ou justifica sua revolta na sociedade injusta. Resultado, todos ficam sem e tudo fica ainda mais injusto!

Um bom amigo acabou de passar, entre milhares de candidatos, em um concurso. Quem faz concurso sabe o quanto se tem que estudar. Horas insones lendo e relendo a "lei seca", assistindo aulas, refazendo e interpretando questões. Só passa quem for bom. Naqueles que não passam dá para perceber duas atitudes. A primeira: "beleza, é mais experiência para o próximo". A segunda, e bem comum: "concurso é jogo de cartas marcadas onde só entra peixinho". Então, queridão, para que você prestou concurso?

Aí eu fico aqui pensando que se você não faz o melhor que pode, como esperar ter os mesmos resultados dos que o fazem?

Ao mesmo tempo, permaneço pensando, qual o motivo de se punir coletivamente o erro causado por um só indivíduo?

Pensando um pouquinho mais percebo que são essas coisas que criam a sociedade do muchocho, da análise rasteira, do deixa pra lá que é assim mesmo. Uma sociedade sem brio, acostumada com o fracasso e que é capaz de se alimentar dele para permanecer na mesma. Aquela que não prima pelo que é melhor nem estimula os melhores. Um espírito coletivo onde o mínimo pode parecer o suficiente.


Uma sociedade nota C.