quinta-feira, 24 de janeiro de 2019

POLLY (miniconto)

Os projetos andam, mesmo que arrastando o solado no asfalto, andam. Segue um mini-conto dos que estão em elaboração para o novo livro. Usei o nome de uma amiga virtual para elaborá-lo. Espero que ela não fique chateada comigo...

Polly

Eu fico aqui inventando historinhas. Bois das caras pretas. Donas Chicas admiradas. Meninos Maluquinhos rondam minha cabeça enquanto escrevo. Os bois vão dormir, eu não. A criançada até fica feliz mas meus livros ficam ali largados no canto da creche. Doei alguns exemplares.

Ligaram para mim. “Seu Ramon” Detesto que me chamem “Seu Ramon”. O “Seu” só fica bom no Jorge. Seu Jorge. São Gonçalo. O "Seu Ramon", fica parecendo que sou velho. Estou ficando, mas não preciso parecer. “O senhor pode vir buscar a Pollyana agora? Aconteceu um probleminha.” Perguntei meio assustado o que tinha acontecido. “Ela está ótima. Nada com a saúde dela. Só precisamos que o senhor venha aqui agora”.

Toquei a campainha do portão e uma dona baixinha veio atender. Se me chamam de “Seu” chamo ela de “Dona”. “Seu Ramon, por favor o senhor poderia vir conosco.” Atravessei o pátio e a Polly estava sentada sozinha numa cadeirinha de madeira numa área coberta da creche. “Oi pai !” Gritou de lá. Espalmei a mão e sussurrei abrindo a boca para a ela ler nos meus lábios “Peraí”.

Passei pelo corredor de murinho baixo e envidraçado na altura do meus ombros onde ficam as crianças pequenas. Algumas estavam deitadinhas em colchonetes descansando. Aí ! Pisei num Lego. Doeu. A sola do mocassim é fina.

Entrei na sala dela e tinha uma mulher abaixada fazendo dengo com no filho - um ruivinho com a camisa do DeadPool. “Seu Ramon, essa é a mãe do Tomás” “Dona Estela, o nome dele é Thomas” Ela caprichou com a língua na ponta dos dentes. “Seu Ramon a Pollyana tem estado impossível esses dias. Canta alto acordando as crianças menores, pega os brinquedos e não empresta para o coleguinha, rabiscou a parede do salão dizendo que era uma artista como o pai. E hoje, Seu Ramon, ela mordeu o pescoço do Tômas, coitado...” “Thomas...” Falei que podia deixar que eu ia ter uma conversa séria com ela. Imagine, fazer bagunça e ainda morder o pescoço do Tômas” “Th...”

Olhei para o chão e lá estava “As aventuras do Gato Chani”.  Era pra ser Chaninho. Rasgaram parte da capa do meu livro.

Saí da sala e minha filha estava do lado de fora de mochilinha nas costas com as bochechas rosadas. “Dá mão” disse. Fomos para o carro. Coloquei ela no buster e prendi com o cinto. Assim que fechei minha porta ela danou a falar com aquela voz rouquinha de quem tomou gelado: “Pai, a tia Estela me colocou de castigo mas eu disse que a culpa não era minha que Tomás é bobo de galocha que só fala besteira e me empurrou aí eu mordi ele e ela disse que precisava falar com você que eu estava impossível e isso não é verdade pai, pois eu sou uma pessoa possível...” Aí eu ri. Ela não viu. Pedi que ela me dissesse o que aconteceu. "Foi ele pai. Ele falou que o seu livro é idiota que fala de um gato “escorosado” e de uma menina estúpida. Aí eu fui tomar o seu livro dele e ele puxou com força e rasgou a capa e eu disse que isso não ia ficar assim que eu ia falar com você ai ele jogou o livro em mim e e eu fui lá e mordi o pescoço dele” “Tá bom Polly. A gente conversa direito quando chegar em casa”.

Mirei no retrovisor e ela olhava lá fora. Minha filha é muito fofa.

sexta-feira, 11 de janeiro de 2019

OS DEFINITIVOS



É interessante quando você encontra alguém na Internet que adora conflito.
Não recrimino. Já fui assim por uns 30, 40 dias, acho. Faz uns cinco anos, talvez.

Olhando de fora, vejo o quanto é ridículo querer fazer com que o outro seja convencido pelos argumentos mais furiosos que seu intestino grosso pode ofertar.

Imagino o sujeito sentado no sanitário com raiva de ser contrariado e desejando impor sua opinião como se não houvesse amanhã e como se sua postagem fosse resolver definitivamente todos os problemas locais, nacionais e 
internacionais. Momento para ser “eternizado”.

A casa do sujeito deve ser um brinco. As contas devem estar todas em dia. A louça?! Ah, a louça é auto-higienizada. Sapatos polidos. Talco no bumbum. A grama muito mais verde que a do vizinho.

Tudo porque sua palavra foi a última num post do Facebook.

Profundo como uma azeitona no dry martini.

O Leonardo da Vinci da rede social.