terça-feira, 31 de dezembro de 2013

FELIZ 2014 ! ! ! ! ! !

ANO DE SUBIR A MONTANHA 
PARA NOVAS CONQUISTAS !!!

domingo, 29 de dezembro de 2013

CANELA QUEBRADA !


Hoje o texto é curto.

Quem ficou acordado de madrugada para ver a luta do UFC se compadeceu e até sentiu (hipoteticamente, claro!) a dor do lutador Anderson Silva. Realmente uma pena ele ter se contundido tão gravemente.

Ok ! 

Comentário posterior ouvido por estes ouvidos em um canal de TV a cabo: Anderson Silva, o nosso campeão e melhor lutador de todos os tempos de MMA pode se aposentar. Mais um mito de nosso esporte pode parar por um motivo alheio à sua vontade.

NO WAY !
 
O negócio promovido pelo Sr. Dana White pode ser tudo, menos esporte.
                
Entretenimento para alguns aficionados por lutas marciais, nacionalistas de plantão ou gente que gosta de ver sangue, a marca UFC é um negócio extremamente lucrativo, e ponto. 


Esporte é aquela coisa que você faz inicialmente por prazer – tipo futebol, vôlei, natação, cuspe a distância, etc. - ou porque seu pai ou mãe te colocam para praticar alguma atividade física e ver se você sai da prostração ou vagabundagem. Ser remunerado por isso no futuro não o fará menos esportista. Ser explorado e massificado por um único indivíduo o transforma em negócio e é  justamente isso que me traz antipatia.

Gosto de box, competições de judô, taekwondo. Talvez até gostasse de MMA se soubesse que não é “privatizado”.


Vi a luta com o delay da Globo – pois jamais pagaria paper view para assistir a esse troço - de 15 minutos já sabendo o que havia acontecido. Pura curiosidade, aliada à insônia e uma calor infernal na madrugada. 


Não vejo elementos que me indiquem que os espetáculos oferecidos não tenham seus roteiro planejados. Vitórias, derrotas, perfil dos protagonistas. Sabe-se antecipadamente dos favoritos, mas colocam-se as zebras como promissoras. Não me agrada. Exemplos: a queda de Anderson Silva na última luta ainda me pareceu muito estranha – não, não assisti, só vi depois pelos jornais e internet. Sua luta anterior - com a o tropeço de Sonen depois de uma voadora inverossímil e posterior nocaute sem reação “oferecido” ao brasileiro – essa sim, assisti com interesse para fundamentar minhas elucubrações – achei mais estranha ainda.

Esta noite, o planejamento era o retorno do “campeão” para talvez uma posterior aposentadoria no auge. Deu errado; foi exceção, uma fatalidade. De todo modo, boa sorte a ele e que se recupere rápido e volte para sua casa. No futuro talvez possa praticar algum esporte de verdade.

Então, o que você acha?

terça-feira, 24 de dezembro de 2013

SUPERPODERES - PARTE 3





Parte 3

        O short jeans desfiado de Sarah foi imediatamente retirado e jogado no banco traseiro. Suas pernas realmente não combinavam com ela. Em suas mãos o esmalte vermelho das unhas começava a soltar negligentemente. Ainda assim suas práticas manuais foram aceitas de bom grado pelo homem. O volante clássico de três raios mal podia manter-se estável na estrada com os movimentos ritmados com que a mulher operava.
        Tomás dirigia sob efeito do álcool. Ela, mesmo alcoolizada, caprichava na empunhadura do falo. Queria realizar uma operação um pouco mais complicada, mas a altura do câmbio e a distância de um banco a outro atrapalhavam seus planos. O calor que era quase insuportável na birosca, agora era vencido pelo vento que era devorado pelas janelas abertas do automóvel. Seus corpos suados refrescavam-se a medida que Tomás acelerava. Ele abriu sua camisa de botões e ela conseguiu beijá-lo o peito.
        O carro disparado seguia pela rodovia vazia ao cair da tarde. Uma enorme reta levemente ascendente tinha no final o brilho do solar intenso. Como uma bola de ouro no horizonte. Colocou os óculos escuros que estavam sobre a testa sem propósito.
        Sarah finalmente conseguiu se posicionar de forma a agradar seu parceiro com mãos, boca, língua e tudo que se podia comprar com um bocado de bebida e uns trocados.
A contração de seus músculos pélvicos fez com que Tomás esticasse as pernas e acelerasse ainda mais o carro. Sua excitação era tamanha que suas mãos apertavam o volante como se segurasse uma barra de ferro quente que não pudesse se desprender de sua carne. Um arrepio começava a vir de suas entranhas e se lançava para fora de seu corpo como jatos de água quente; um após o outro. E foram muitos. E estes jatos encontravam sua morada em algum lugar desconhecido que ele mesmo não tinha intenção de saber. Ao final deixou sua cabeça cair sobre o ombro de olhos fechados para descansar de tal esforço. Então sentiu um baque único, seco, como jamais ouvira. Pisou no freio com força e fez o carro rodar pela pista. A mulher mordeu seu pênis. Tomás gritou de dor. Cheiro de borracha. O carro caprichosamente parou na pista contrária, virado na mão certa, como se o motorista fosse obrigado a voltar para ver a incomensurável merda que havia feito.

*      *      *

        Vestiram-se depois do banho. “Se é assim sempre, vou querer todos os dias”, pensou. Estava leve. A vida era bela. Criou uma imagem de um grande pote de cerejas onde ele mergulhara e se deitara sobre as frutas macias e suculentas. Só faltava ela ter poderes também. Dois mutantes. Enquanto viajava em seu pote de cerejas, ouviu uma voz: “Nossa, está tarde, só falta ele me levar em casa voando”, leu o pensamento dela.
        - Você teria medo?
        - O quê?
        - De ir voando comigo?
        - Para de ler meus pensamentos, Ariel!
        - Desculpa. Foi sem querer. Mas me responde?
        - Cara, sei lá?! Você já fez isso?
        - Ainda não. Espera um minuto aqui no quarto.
        Ariel foi em direção à área de serviço e depois a um pequeno quintal. Já era noite e as luzes no fundo da casa não estavam acesas. Duda ouviu algo como o vento soprando bem fininho, mas ficou imóvel no quarto. Pensativa. Que loucura tudo aquilo. Já tinha feito sexo, mas não daquele jeito. Os outros caras foram afobados, inseguros, uns moleques. Ariel? Nossa, se soubesse... E ainda se preocupou em colocar camisinha sem ela pedir. Estava calçando suas sandálias, pensando na sorte que tivera quando ouve novamente o assobio do vento. O rapaz entra no quarto e traz nas mãos uma camisola com a estampa de um cachorro com a língua de fora.
        - Onde você conseguiu isso?
        - No seu quarto. Acho que consigo te levar em casa. Mas antes, quero te levar em um lugar.

*      *      *

- Pra mim você morreu!
- Devo ter morrido mesmo! Só não sou um marginal como você!!
        - Por quê? Você virou outro tipo de marginal? Eu não sou mais bandido. Paguei por tudo o que fiz.
        - Pagou mesmo, Tomás? Cadê minha avó?
        - Minha mãe! Você não tem direito de chamá-la de avó. Você matou minha mãe quando foi embora! Ouviu! Você matou minha mãe!
        - Será que fui eu mesmo? Ou foi você puxando cadeia e aparecendo de vez em quando com seu bando de merda em casa? Sempre com droga. Sempre armado... Você é um lixo!!
        Silêncio.
        - O que você quer? Veio aqui procurando o quê?
- Vim saber da minha avó. Vim pegar o que é meu. Minha casa. Minhas coisas.
        - Suas coisas? Você não tem mais nada. Você matou minha mãe de desgosto quando foi embora. Fala de mim. Que sou marginal. Que andava em bandos. Você fugiu com mais dois. Boa coisa vocês não iam fazer... O que você quer?
        - Seu imbecil. Eu fugi de casa e fui tentar jogar futebol com outros dois amigos. Se você tivesse ao menos reparado, eu jogava muito. Minha avó, que você bate no peito para chamar de mãe, sempre soube disso e apoiou. Não me queria perto de você. Quando eu achei um pacote de maconha no seu quarto, que ela me fazia limpar todos os dias para você encontrar uma cama limpa sempre que voltasse de suas merdas; nesse dia ela me contou quem você era. Ela sempre escondeu sua pilantragem. Cadeia? “Ah, meu neto, seu pais está viajando”. Depois eu entendi quando o pessoal da rua me olhava com medo, com pena, com descaso. Filho de bandido. Eu quis te matar! Ela vivia aflita por sua causa. Sempre pelos cantos...
        - ...
        - Não adianta por a mão no peito seu merda! Quem matou MINHA avó foi você. Assassino da própria mãe !!
        - ...
        - Vou embora ! Moooorra!!!!
       
*      *      *

        A noite tinha luar e era quente. Ariel pediu que Duda ficasse às suas costas e enlaçasse seu pescoço. Ariel, sabia tudo de como ser um super-herói. Ou um vilão.  Levantou voo no quintal de casa sobrevoando acima do arvoredo, postes, luzes das casas e edifícios baixos de seu bairro. Lentamente, até Duda se acostumar.
        - Duda, pensa que você está em uma moto e que essa moto não tomba para lado nenhum. Ela sorriu e tudo ficou bom, plácido, tranquilo. O vento no rosto, a perspectiva da cidade como ela nunca vira. Estava se deliciando com SEU super-herói. Seu gato, seu príncipe encantado. Com certeza iria visitá-la todas as noites. Amaria seu corpo como hoje. Levaria ela as alturas.
        Ariel fundia seus pensamentos com os dela. Na verdade os controlava. Medos e desejos de Duda. Fizera assim até na relação sexual. Uma hipnose que a deixava entorpecida. Uma droga que invadia seu cérebro e o mantinha no controle. Mais um superpoder?
        - Antes de te levar em casa, vou te levar num lugar..
        - Ta bom. – abraçou com força o tórax franzino do rapaz, deitou a cabeça em sua nuca, fechou os olhos e sorriu. O vento tremulava seus cabelos.

        Ariel desceu nos fundos do restaurante de seu avô.
- Vem, vou te apresentar o meu vô.
- Não esquece que preciso voltar logo. Minha mãe deve estar preocupada.
- É rapidinho.
Deram a volta e entraram pela frente. No salão cumprimentou os empregados e foi em direção ao escritório de mãos dadas com Duda. O restaurante estava muito cheio. Estranho. Seu avô gostava de circular entre as mesas. Abriu a porta do escritório. Uma ante-sala com um sofá, uma mesa e algumas cadeiras que servia para reuniões com os funcionários do restaurante.

*      *      *

        - Vô, o senhor está aí? – teve um pressentimento. O homem que estivera na sua casa esteve ali também. Empurrou a porta do escritório que abriu parcialmente. Viu os pés do avô no chão. Empurrou com força e entrou. Duda assistiu a cena com nervosismo. Voltava do torpor da fusão dos pensamentos com Ariel. Ela não era mais o foco de seus pensamentos e sim o avô.
- Vô, responde. Vô, o que aconteceu. Vô cadê o cara que veio aqui.
Seu avô respirava com dificuldade e não conseguia falar. Uma dor apertava-lhe o peito.
- Duda! – ela embasbacada olhando para o homem grisalho caído ao chão.
- Porra Duda! Avisa lá fora para chamarem um médico.
- Tá bom! Tá bom!
- Vô. Tosse, Vô! Tosse ! Com força, vai. – Ouvira dizer que se um homem tossisse muitas vezes de tempos em tempos, poderia ajudar. Não sabia se era verdade. Mas a mão no peito do avô devia significar um infarto. Duda voltou com um garçom.
- Duda, fica aqui um pouquinho.
- Eu, Ariel?!
- Uns dez minutos. Já volto.
Ariel saiu em disparada. O rastro do visitante estava esmaecendo mais ainda podia senti-lo. Não estava de moto. Estava a pé. Só não conseguia ver seu rosto. Andou por uma, duas, três quadras. Virou à esquerda, atravessou a rua. Seguiu reto e virou à direita. Um hotel barato. Ele estava ali. Entrou. Na recepção o funcionário do hotel, um homem baixinho, gritou qualquer coisa para barrar sua entrada. Ariel parou e seu rosto transtornado transformou-se em uma figura monstruosa. Seus dentes tornaram-se pontiagudos e projetando-se fora de sua arcada. Seus olhos ficaram vermelhos e suas veias ressaltadas no pescoço pareciam querer explodir de ódio. Seus punhos serrados mostravam na ponta de seus dedos, que agora adquirira aspecto animal, unhas poderosas que tentavam atingir o recepcionista. Sem alcançá-lo, martelou o balcão onde o homenzinho estava afundando-o com uma única pancada. O homem tentou se esconder atrás de uma cadeira. Ariel levantou-o segurando pelo fundo de suas calças e pelo colarinho jogando-o contra a parede. Como um lobo sentiu o cheiro de sua presa. Subiu pelas escadas até o terceiro andar. 317.
        Ariel chegou bem à frente da porta do quarto e teve uma sensação estranha. Bum !
        O meio da porta ganhou um enorme rombo e ele foi jogado para trás, batendo com a cabeça no corredor oposto. Seu peito queimava de dor e o sangue escorria por seu abdômen. Sua figura já não era a do animal feroz e sim do adolescente cheio de espinhas. Um homem aparece e o observa.
        - Que porra é essa moleque? O que você quer?
        Sentiu que o cheiro do homem era igual ao do seu avô. 
        - Você é meu pai?
        - O QUÊ? Tá maluco? Quem é você?
        - Seu cheiro é igual ao do meu avô?
        - Maluco de pedra.
        - Você não é filho do Tomás?
        - Esse filho da puta só entrou com o esperma.
        - Então você é meu pai.
        - Guri, eu não posso ter filhos. Já ouviu falar em vasectomia?
        - Por que você foi procurar o meu avô?
        - Ele não é teu avô.
        - É sim!
        - Como é que você sabe que eu fui procurar “teu avô”?
        - Eu senti seu cheiro lá em casa e no restaurante.
        - O quê você é? Um cachorro? – Virou as costas e riu. Riu muito alto. Riu mais alto do que o tiro que dera em Ariel. Mas suas risadas foram cortadas por lâminas que lhe atravessaram as tripas num único golpe.
- Eu posso ser qualquer coisa!
Fechou os olhos. Seus pensamentos voltaram no tempo. Nas peladas na rua. Na avó chamando para o almoço. Na fuga com os amigos para o interior. Nos campos de futebol. No estalo de seu joelho. Na irmã que apanhava do marido. No sobrinho nascendo. No primeiro trago na bebida. Na cocaína que cheirou e viciou. Nos quartos imundos que teve que dormir. No primeiro homem que matou. Na Bia que amou. Na Bia que o tirou do vício. Na Bia perdendo o bebê. Na Bia morrendo em seus braços. O leão mordia seu coração e o seu sangue escorreria pela sua boca pela última vez...
        Assim como ele, Ariel pôde ver seus pensamentos. Por que fizera aquilo? Quem seria de verdade aquele sujeito? As lâminas que surgiram nos seus punhos. A história que mais gostava. Seu herói favorito apareceu em sua cabeça. Agora, Tio Ben em seu ouvido martelando aquela frase batida. Será que estes superpoderes seriam uma maldição? Sua raiva incontrolável, antes só direcionada contra motoristas imprudentes estava se expandindo para qualquer coisa que o contrariasse. Fora lá e não descobrira nada; só  havia arranjado mais dúvidas. No seu caminho, agora existia um morto. Seus ferimentos estavam fechados. O chumbo havia sido expelido e repousava sobre sua roupa. Seu sangue ainda fresco começava a grudar na pele. Tinha que sair dali, o avô estava mal e logo a polícia chegaria.

*      *      *

        Ariel estava no corredor com Duda. O médico disse que Tomás só poderia receber uma visita por vez.
        - Entra você primeiro.
        - Não, vai você na frente. Espero você aqui. Só nós dois vamos visitá-lo mesmo.
        Duda entrou. Ariel ficou olhando a rua pela janela do corredor da UTI. Os carros que passavam a uns cem metros passavam vagarosamente naquele trecho. Dois quebra molas cumpriam seu dever de conter um pouco a irresponsabilidade no trânsito. Naquele andar onde estava só se ouviam passarinhos na encosta ao lado do hospital. Pensou mais uma vez no homem que matara. Matou o filho de seu avô que não era seu pai. Precisava de uma explicação. Mas não ia ser hoje. Agora o importante era o velho Tomás se recuperar.
        - Vem, ele que te ver. Mas não força não. Está falando com dificuldade mas disse que queria te contar uma coisa.
        - Disse o quê?
        - Não.
        Entrou no quarto. Seu avô estava deitado reclinado no leito hospitalar. Pequenos tubos estavam inseridos no seu corpo. Um grande curativo repousava sobre seu peito.
        - Oi vô! Que bom te ver!
        - A... Ar...Ari...
        - Para de falar. Você vai ficar cansado.
        - Pre... Preciso... contar...
        - Não precisa nada. Agora não. Vim te ver. Ver como está se recuperando.
        “Preciso te contar. Você não é meu neto de verdade. Quer dizer, é mais como se fosse o filho que eu perdi”
        Ariel lia os pensamentos do avô que olhava fixamente para ele. Seus pensamentos viajavam quatorze anos ao passado. O carro acelerando a mulher com a cara sob o volante do carro. Os óculos escuros para proteger do sol. O gozo. A pancada. A dor. O menino em pé olhando para a mãe contorcida e morta no chão. A mulher de cabelos vermelhos vestindo um short. O V8 correndo pela estrada fugindo e deixando um casal morto na beira da estrada. Tomás trazendo o menino no carro com aquela mulher de cabelos vermelhos. O choro do menino. A decisão de ficar com ele.
Os olhos de ambos encheram-se de lágrimas que não caiam. Fixos um no outro.
Tomás respirava com força. Puxando o ar com dificuldade e enorme vontade de chorar. O mesmo sentia Ariel. Suas tristezas vinham do mesmo drama, mas suas motivações eram diferentes. A pressão do velho subia e os aparelhos que o monitoravam começavam a ficar alterados. Olhou momentaneamente para as máquinas para ver o que acontecia.
Ariel levantou seu braço direito vagarosamente com a respiração ofegante. O olhar marejado de Tomás voltou-se fixamente para três enormes lâminas que se projetavam dos punhos do garoto e cintilavam em sua direção.


 FIM (?)