domingo, 30 de abril de 2017

JOVEM SUL AMERICANO

Adolescendo, eu arranhava um violão e escrevia letras que um ou outro achavam interessantes. Meu parceiro, irmão, tudo mais, Lobão - este, genuíno de nome, não apelido - escrevia letras fantásticas, além de cantar muuuito.
A gente brincava, quando aparecíamos com uma letra nova, que, certamente, tínhamos superado o Renato Russo e o Cazuza, ídolos da época.
Com o tempo, o texto ficava cada vez melhor e já dizíamos que já estávamos superando o Chico ou o Caetano, depois de muita marra e risada.
O tempo passou e as letras ficaram nas gavetas ou em arquivos de um HD qualquer.
Na minha cabeça, havia, e ainda há, um patamar mais acima para letristas. Aquele em que a emoção, a criação e a técnica atingiram, pontualmente, coisas que fazem seus neurônios transmitirem para seu espírito algo que você queria ter feito, e pronto, estava ali para você ouvir.
É lógico que neste patamar, cada um tem suas preferências. Na minha lista, está um senhor latino americano sem dinheiro no banco, de bigode imponente, nascido no Ceará. As letras mais rock n' roll da MPB.
Ele partiu hoje.

sábado, 29 de abril de 2017

MARACANÃ

Segundas-feiras sempre tem aqueles minutinhos que você troca uma ideia sobre o final de semana. Quem gosta de bola, fala  sobre o jogo, bota pilha, provoca quem perdeu, brinca com quem é da própria torcida,...
Nesse papo sem compromisso, alguém comentou que fim de semana passado, o Edmundo, hoje comentarista da Fox, chorou por estar no Santiago Bernabeu lotado, esperando Real e Barça se enfrentarem. Oh! Oitenta mil espectadores.
Fiquei pensando quando eu ia ao Maracanã a pé, moleque, sozinho, escondido da minha mãe, com dez pratas no bolso pra pegar uma geral e assistir Flamengo e, sei lá: Inter, Curitiba, Santos,... Enfim, jogo de uma torcida só. E olhava lá para cima na arquibancada ou para atrás nas cadeiras, e depois de torcer muito, pois não éramos espectadores, mas torcedores, e uma voz quase incompreensível, num alto falante tosco, pior do que da igreja, lá pelos trinta e cinco do segundo tempo anunciava sessenta, setenta, oitenta mil no estádio. Naquele época , arena era coisa de luta livre ou do filme do Ben Hur.
O tesão era outro. A gente ria, gritava, elogiava a mãe do bandeira. No gol, abraçava seu mais novo amigo de infância. Tomava banda da torcida adversária. Jogava chinelo no banco do treinador burro e mais burro ainda, ia descalço pra casa.
Mas os tempos são outros. Hoje um cara chora num país que não é o seu, trabalhando e sendo bem pago pra assistir a times pelos quais nunca jogou, se identificando com uma história que não é a sua.
Na boa, Edmundo, vai buscar o chinelo. Um dia você acha graça.

sexta-feira, 28 de abril de 2017

GREVE?!


Enquanto uns falam que são de esquerda ou falam que são de direita achando-se numa Bastilha imaginária, cerca de mil picaretas federais do executivo, do legislativo e do judiciário passam por cima dos seus direitos todos os dias, decidindo o quanto você paga, o que você pode comprar, comer beber, falar. Como a letra do Herbert: "me diz até o que vestir, por onde andar e onde ir". E você se acha livre por optar por este ou aquele discurso que acha verdadeiro ouvir e seguir.
Os tais, defendem-se de acusações, arrotando arrogância e caradurismo, como se fossem respeitáveis, probos e ilibados.
Hoje, enquanto uns idiotas bloqueiam ruas ao invés de buscar adesão à uma manifestação de massa que todos sabem que precisa ser feita, essa tal "greve geral" não vai adiantar nada. Não reúne a todos.
Manifestações populares não precisam de lideranças - principalmente partidárias, sindicais e de "organizações civis" ou militares. Manifestações não precisam de militância. Na verdade qualquer liderança em manifestação deve ser repudiada. Você não precisa de ninguém pra saber que está de saco cheio. Na memória recente, junho de 2013 comprova isso.
Por enquanto a boiada continua seguindo os vaqueiros para o abate, ao invés de estourar.
O tal pacto que te impuseram - desde que você nasceu - a fazer com o Estado para que ele cuidasse da vida de todos, precisa ser rompido pois só favorece um lado. E não é o seu.