Na semana passada aqui em casa numa confusão de
agendas antigas e recentes nos aparelhos celulares, procuramos o telefone da
minha tia para ligar para ela.
Ela, que também é minha madrinha,
já tem certa idade - e é claro que minha discrição não permite revela-la assim em público - e cuidava de
mim quando eu era criança enquanto meus pais trabalhavam. Ela costurava; ou
melhor, costura até hoje, em menos quantidade, lógico.
Numa dessas listas de telefone selecionei
um apelido que, carinhosamente, poucas pessoas a chamam. Conseguimos falar com
ela. Fiquei feliz. Ah, mas que relapso. Às vezes ela me liga dando bronca quando demoro a dar notícias: ”Eu não
morri não, hein...!“ - e nem vai, ora bolas! Ah, vida que nos deixa sem tempo para o que é importante.
Vida com pressa. Vida distante. Sem desculpas, Clayton.
Eu me lembro que, quando
criança, ficava sentado durante horas brincando atrás da cadeira de trabalho da
antiga Singer enquanto a máquina fazia seu barulho, encravando a agulha
centenas de vezes no tecido - ” Tatatatatatatata...”. Ela costurava,
eu cutucava as frestas dos tacos do antigo sobrado procurando e achando alfinetes
aos montes.
Ouvíamos rádio e conversávamos à
tarde toda, principalmente nos dias de chuva, quando não dava para bater bola
no quintal, ou brincar com a cadelinha pequenez, ou ainda inventar super-heróis com um monte de brinquedos jogados pela varanda. Era bom. Crianças devem
ter a liberdade de fantasiar suas histórias - faz parte do mundo infantil. Já fui uma mistura de Tarzan e Superman e desabei com as cortinas da sala. Mas mesmo nesse tempo de brincadeiras as crianças passam a entender as coisas e as pessoas como são. Percebem quem doa seu tempo para cuida-las.
Percebem o carinho e a proteção.
O nome da minha tia / madrinha é
Pátria. Sim! Além de Pátria é Maria. Minha avó foi realmente feliz. Quem mais teria um nome que representasse
tanto acolhimento e zelo que Pátria Maria? Beijos, tia, madrinha, mãe, tudo...
* * *
Hoje as pessoas dificilmente vão
ao dicionário. Procuram o Google ou Wikipédia – assim mesmo, como está escrito na página, com o acento agudo
no “É”, e como em enciclopédia – para obter um mínimo de conhecimento rápido. Sou
um sujeito curioso; olha o que achei no "uiquipédia":
“Pátria (do latim "patriota", terra paterna) indica a terra
natal ou adotiva de um ser humano,
que se sente ligado por vínculos afetivos, culturais, valores e
história.”
* * *
Aos brasileiros e aos brasileiros
“de espírito” - e singularizo este povo por não conhecer profundamente a
realidade de outros povos - é reservado um lugar belíssimo. As dimensões
continentais guardam mais surpresas que todos os pacotes turísticos mundo afora.
A riqueza de sua diversidade cultural das três raças que originaram o tal
cidadão brasileiro mais o acolhimento de pessoas de todo o planeta durante séculos,
fizeram e fazem desta “grande miscigenada” algo incomparável. Sua história
entre tropeços e trapaças - vamos dizer assim – acertos e erros, também é rica
em personagens em fatos que definem os valores que carregam sua história. Agora
que todos têm disponibilidade de saber de tudo – mesmo através de “conhecimento
rápido”, seria bom acertar o passo. Fazer o que for preciso. Ser menos cidadão
do mundo e mais cidadão do Brasil. Estou tão ufanista que nem me reconheço; volto
ao normal no próximo parágrafo.
O problema é que muitos dos seus
filhos andam por aí sem serem acolhidos. Andam por aí sem eira nem beira,
sentindo toda (má) sorte de desconforto. A maior parte deles por causa de
outros filhos desta mesma mãe-pátria. Estes outros com eira, beira e coberturas
nos Jardins ou Leblons da vida. Mas com os traços doentes da mentira e da corrupção.
Estes que tomam para si os
destinos de seus fraternos parentes, e que ao invés de chá de boldo, repouso e
canja de galinha nos momentos de enfermidade, tratam da casa da mãe-pátria com doses
cavalares de Imosec antes das eleições e doses “antalares” de Lacto-Purga
depois – estes têm a certeza do resultado que terão. Todos estão vendo.
Lamentavelmente a mãe-pátria dos
brasileiros sofre com seus filhos. De aflição por aqueles filhos que não pode
amparar e de vergonha pelos que viram as costas para ela.
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