Depois de 28 comandantes (é, eu fui lá contar !), hoje comemora-se (?!) o aniversário de número cento e
vinte e cinco, desta nau que segue à deriva, flutuando sobre o Atlântico Sul.
Em que pese a boa vontade
do velho Marechal Deodoro que saiu de seu recolhimento, vencendo uma asma ou
uma dispneia qualquer, depois de ouvir o blá blá blá de uns revoltados da corte,
para largar seu cobertor quentinho, vestir roupa de campanha, dar uma volta em seu cavalo
no Campo de Santana, driblando os camelôs, trombadinhas, cones da pista reversível
, guarda municipal balançando os braços, dois motoboys atropelados, três
manifestações de qualquer coisa, para enfim gritar com a pouca força que seus
pulmões dispunham naquele momento “Viva
a República”, e ao voltar para casa, ao tirar suas botas, puxaria o ar com força
e se perguntaria: caralho, será que vai dar merda ?
Deu.
O futuro nos revelaria algumas
durezas republicanas: a velha e a nova repúblicas; Estados velhos, novos e
corruptos; alguns golpes e ditaduras; mortes
pré- eleitorais de candidatos, um
suicídio, um presidente eleito morto antes da posse, uma renúncia, um impeachment,...
Cento e vinte e cinco anos danados esses.
Na última metade do
percurso que esta barca chamada República navegou, nós assistimos do convés com
rodos nas mãos e Havaianas nos pés, os comandantes atolarem em bancos de areia,
baterem em recifes de corais, enfrentarem tempestades por estarem preocupados
com seus próprios umbigos. Davam atenção a outras coisas mais importantes que
comandar o navio. Bradavam ao chegar na cabine: vassourinhas e caça a marajás;
confiscos e congelamentos; trocas de moedas e empréstimos externos; cinquenta anos em cinco; bolsas e pronatecs; baboseiras para nós, a marinheirada suada...
Já faz alguns meses,
enquanto a nau entrava em um redemoinho no triângulo das bermudas, que a primeira "comandanta”
e seus imediatos calavam a boca para qualquer coisa que dissesse respeito a “lavagem
à jato” do navio - "melhor deixar sujo, né gente ?!".Preocupavam-se em lavar mal lavado outras coisas
nos últimos anos de viagem.
Mas tudo isso é praga do
Visconde de Ouro Preto – ouro preto (?) hmmm, as coisas começam a fazer sentido
– que em defesa da monarquia, da qual participou efetivamente, escreveu: “A república se levantou sobre os broquéis da soldadesca amotinada, vem
de uma origem criminosa, realizou-se por meio de um atentado sem precedentes na
história e terá uma existência efêmera!”
A existência é longa, mas a origem
continua criminosa.
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