domingo, 22 de dezembro de 2013

CHICLETE



“Me dá um pedaço?”

Ele acabava de sentar no banco de cimento que circundava toda a quadra da escola.

Uma multidão de alunos descia as escadas, passava por um largo corredor e chegava ao pátio. À direita a cantina e em frente, a quadra. Camisas brancas com o símbolo da escola. Os garotos espalhavam-se na quadra montando uma improvisada partida de futebol, o que era proibido no intervalo, driblando os adversários e gente com copos de refrigerante, sacos de biscoito e sanduíches nas mãos. As garotas juntavam-se em pequenos grupos em falatórios paralelos que por vezes faziam duvidar que suas interlocutoras se fizessem entender.

Na sua distração costumeira, nem percebera que sua colega de classe sentara ao seu lado. Ele Havia comprado um pacote de chicletes, desses cuja goma se estica e o formato parece com um pequeno lápis. Ele havia mordido em dois grandes pedaços e acabara de coloca-lo na boca, deixando o papel ao seu lado no banco. Precisava aproveitar; na semana seguinte iria colocar um aparelho dentário.

“Me dá um pedaço?”

Como, se acabara de começar morder todo o conteúdo da embalagem?

“Mas eu só tinha es...”

“Eu quero esse que você esta mastigando!”

Como assim? – Pensou.  Olhou bem para o rosto da menina que sorria simpática sem mostrar os dentes. O que ela queria? Que ele tirasse o chiclete mascado e desse a ela? Esse pensamento o deixou atordoado. Sua timidez que o acompanhava desde o jardim da infância não permitira que conseguisse se aproximar das garotas. Na verdade ainda nem pensava muito nisso. Enquanto seus colegas de classe já haviam ao menos beijado algumas meninas, ele permanecia um BV – boca virgem. Imagine: BV aos 13!

“É que eu não tenho out...”

A menina colocou os dedos em sua boca durante dois segundos. Em seguida retornou com o indicador em seus próprios lábios pedindo silêncio. Sorriu franzindo os lábios púberes ligeiramente e aproximou sua boca da dele colocando suas delicadas mãos em seu rosto. Sua fenda bucal encontrou-se com a dele em um beijo sabor morango. Sua língua tocou a dele ternamente, trocando carícias por alguns segundos. O chiclete finalmente passou para a boca da menina. Ela findou o beijo, abrindo os olhos e mascando por duas ou três vezes, absorvendo o gosto da goma e o da saliva dele. Sorriu ainda sem mostrar os dentes e com as pontas dos dedos pegou o chiclete.

“Língua!” Ordenou. 

Ele abriu a boca mostrando a língua rosada. Ela recolocou o chiclete e ainda com a ponta dos dedos levantou o queixo do garoto.

“No final da aula eu quero mais chiclete!” - levantou do banco de cimento e foi embora atravessando o pátio.

Até hoje, aos trinta e cinco, ele anda sempre com uns chicletes no bolso. 

Sabe-se lá...

 


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