domingo, 15 de dezembro de 2013

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                                        O Rio faz parte de mim. 


  Das ruas da Lapa às esquinas do Estácio. Das calçadas da Vila aos paralelepípedos da Providência. Hoje, o Rio se expandiu me fez Grande Rio, expandindo-me por seus municípios pelas serras e estradas do interior.


    Dói vê-lo tão maltratado; tão maquiado para gringo; tão usurpado por quem lhe tem deveres de cuidá-lo e não o faz, somente apropriando-se de suas riquezas. Fantasia é achar que todo o dinheiro que aportou nessa cidade por conta das obras para os eventos internacionais pelos quais uma dúzia fez questão de lutar, permaneceu aqui. Ou você foi ingênuo(a) em crer em algum momento durante as transmissões pela TV que a Copa do Mundo e as Olimpíadas trariam impulsos financeiros que mudariam sua vida, e que aquela alegria de nossa  quadrilha, ops, “comitiva”, era pela vitória do Brasil? Certamente que na sua mão, balão não cairia; mas a daquela meia dúzia que deu entrevista prometendo o mundo; ah, pode ter certeza!  E de bucha acesa!

     As chuvas dos últimos dias me fez lembrar os versos duas canções. Ambas feitas em 1989, o nome da primeira é “Rio de Janeiro”: “...operários procuravam um corpo estranho/ entre restos de palmeiras e burgueses jogando...” – Picassos Falsos (letra de Humberto Effe).



    Operários continuam procurando corpos e burgueses continuam jogando com nossas vidas. “A burguesia fede/ a burguesia quer ficar rica/ enquanto houver burguesia/ não vai haver poesia”, como vaticinou Cazuza em "Burguesia" , segunda canção de minha memória. Poetas interpretando o cenário de 25 anos atrás, prevendo o que permanece até agora. Melhor dar ouvidos aos poetas que aos políticos.


    Quando a lama secar, quem sabe o Rio se pareça de novo com o Rio. Ou talvez eu esteja errado e isto não faça mais parte da cidade, desde a época dos índios. A vocação de contestação, àquela que fez dizer que “o gigante acordou” (coisa mais besta!), ficou perdida com os Tupinambás que saboreavam homens brancos refogados no caldeirão. De lá pra cá o gigante só coçou o nariz mordido de pernilongo.

    A única contestação que permanece, parece que ficou a frente de um teclado ou ao alcance de uma tela touchscreen. Cariocas e fluminenses caindo (no caso de um certo Fluminense, caindo mesmo! Perdão, não resisti!), escorridos pela lama das ladeiras e ruas entupidas de lixo, jogados por eles mesmos e não recolhido pelos municípios.

   Mas se fosse só a chuva, a gente até que estaria (mal) acostumado.

    A questão é que temos obras maquiando uma cidade velha que não comporta o aguaceiro. A questão é que levaram 14 milhões de reais em vigas de 20 toneladas e ninguém viu ! O vigia da obra devia ser o Lula ! A questão é que a Praça XV esta virando uma cracolândia, assim como diversos pontos da capital. A questão é que o helicóptero do governador passeia tranquilo com o meu combustível por aí enquanto todos os dias a população pena no metrô, nos ônibus e trens e seus concessionários não são cobrados por isso. A questão é que meu saco é parco de poesia lírica sobre o Rio enquanto os ”estudantes” e adjacentes ficam blackbloqueando a cidade mascarados, como se o governador e os prefeitos lhe dessem alguma atenção. Não dão, senhores de rosto coberto ou de máscara ridícula. Não dão! Eles só esperam o caos para justificar seus atos. A questão é que se vai a um hospital público e só se é atendido se você tiver “padrinho”; senão morra à míngua e a quem fica, corte-se a língua. A questão é que os IPVA’s e IPTU’s, de nossas vidas servem para alimentar e retroalimentar uma engrenagem corrupta dos que vivem amarrados ao úbere do Estado. 

    A cidade de cartão postal e o estado próspero ainda existem. E como eu sei! Valem a pena pelo seu povo que se mistura e mantém a unidade. Lugar incomum esse tal de Rio de Janeiro. Rio, onde pedi passagem na Rua da Passagem e nasci. Rio de meus pés descalços no posto 11, assando no asfalto e nas pedras portuguesas a caminho do mar. Rio da bala de troco. Do jogo do bicho que acertei na milhar. Rio das subidas das serras sinuosas onde me perdi e me achei.

   Cada vez que eles deixam de lado o "meu" Rio, estão maltratando a mim.

   Melhor dar atenção à poesia; esqueça as promessas de quem quer que seja.
 
   E você, é do Rio e do mar?




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