quarta-feira, 13 de maio de 2020

DIA 56


Ouço um podcast qualquer. 
Passar o tempo enquanto trabalho. 
Os ouvidos escutam e os afazeres se fazem autômatos, autônomos. 
A audição é um ótimo sentido. 
Alguém debate que devemos fazer outras coisas; fugir à rotina diária. 
Ativar os neurônios cansados - é o que dizem. 

Não parece errado.



Assim, meu passatempo seria "cirurgias cerebrais". 
Faria externamente. Não espirituais. 
Não sou um charlatão. 
Cirurgias cerebrais são operadas com palavras, sim elas são. 
No prontuário, 
onde estiver escrito: 
"O paciente apresenta um quadro de insensatez momentânea. 
Este lhe causa afasia e erupções cutâneas. 
O quadro é agravado pela repetição crônica de mentiras, 
de palavras de ordem, 
sublimação da sensibilidade, 
incontida arrogância, 
negação do passado, 
delírios de grandeza imaginários 
e violência extrema.” 

Como um doutor, 
pegaria um Pilot e riscaria-lhe a cabeça. 
Faria um xis. 
“Este, enfim, será feliz.” 
Meu bisturi sonoro penetraria através dos ouvidos enfermos 
e aplicaria dezenas, milhares de vozes, milhares de vezes. 

Seria um Goldstein às avessas. 
Um grande irmão imaginário. 
Anestesiaria sua boca irascível para conter-lhe a ira 
e ao contrário, 
repetiria até a sua definitiva cura: 
humanidade, 
humanidade, 
humanidade, 
humanidade, 
humanidade,...


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