segunda-feira, 15 de junho de 2020

CÉSARES

Quando eu tinha treze anos, eu ainda nunca tinha brigado na rua. Diferente da molecada com quem eu andava, sempre fui o cara que separava. Um dia, provoquei uma briga só para saber como era. Acertei um soco e tomei uma gravata que encerrei após eu conduzir gentilmente meu adversário a alguns galões cheios de uma loja de tintas. Uma grande estupidez.

Meu filho já me observou, certa vez, que a Internet é um ambiente absolutamente tóxico. Sim, se tornou.

Estou certo que a comunicação entre o emissor e o receptor precisa ser clara, concisa, sob pena de levar seus interlocutores às interpretações que se baseiam somente no que está escondido em suas almas, muitas vezes beligerantes - a alma de um moleque de treze anos procurando briga. Procurando pelo em ovo.

Um campo de batalha sem fim, onde se buscam significados ocultos para apoiar a agressão e alimentar o ódio na rede. O "Veni. Vidi. Vici.", numa contínua Batalha de Zela.



Isso ocorre em TODOS os setores. Tenho percebido no campo político, onde se retroalimentam ; no espectro da cultura, onde pontos de vista não são respeitados ; entre pessoas comuns que assumem uma posição de embate eterno. Escrevi sobre isso tempos atrás em "Os Definitivos".

Na última semana tive acesso a um diálogo entre um pai de aluno e professores de uma escola pública de ensino médio onde uma pergunta do pai foi entendida como desrespeito à determinada professora e ele passou a ser atacado por outras professoras e pela diretora da escola num áudio absolutamente desproporcional e descabido. Não havia nenhum desrespeito no texto do pai. Mas o instinto bélico, a suspeita de uma mensagem subliminar, uma ironia maldosa, um estopim para o bate boca, parecem estar no espírito nefasto da Internet. Um despropósito.

Nessa pandemia, onde não se permite o cara a cara presencial, participei sábado passado de uma live poética e um de meus textos dizia: "me mandaram odiar você / pois tenho que apoiar a violência gratuita / ao invés da conversa franca e desarmada[...]/ não acato ordens".

Todos querem ser César nas redes sociais, ou, ao menos, um estúpido garoto de treze anos. 

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