domingo, 25 de setembro de 2022

"O COMUNISMO DO MACHO VÉIO"


Eu, assim como muita gente que nasceu no final da década de sessenta, ou início dos setenta, deve ter uma memória, mesmo que vaga da queda do muro de Berlim. Eu tinha saído do quartel e , pasmem, estava no primeiro casamento. Nessa época, o mundo mudava para mim. Vida adulta, contas para pagar, primeiros perrengues profissionais. Nessa época, para o país e para o mundo tudo também mudava. Aqui, a Constituição Cidadã, primeira eleição direta depois da ditadura, com a primeira cagada federal feita nas urnas: Fernando Collor de Mello, “o caçador de marajás”. Era o fim da Guerra Fria para todo o planeta – mas aquele papo idiota de comunismo versus capitalismo ainda permanecia.

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Hoje ainda se usam os discursos com data de validade vencida como se ainda existissem Kossygin contra Lyndon Johnson. Um candidato a presidente tenta ressuscitar Joseph McCarthy e essa bobajada insana da América dos século passado. O mais insano é aceitação pelos “defensores da pátria”. Parceirinhos... Aqui é Brasil. Não há ideologias clássicas que se sobreponham à estratificação social. Aqui, ou você é rico - e se você é rico, certamente não estará lendo isso – ou você vende sua força de trabalho por remuneração – biscateiro, freela, CLT, MEI, profissional liberal prestador de serviços, pequeno empresário e até um servidor público, que também se fode todos os dias para ganhar algum... Assim, se você dedica seu tempo apoiando que o establishment que permanece esfregando a riqueza na sua cara enquanto você precisa se preocupar com boletos todo o início de mês tendo que ralar, gastando seu tempo, sua saúde física e mental para ser força de trabalho dele, você está do lado errado da força... Não está puxando no cabo de guerra, está soltando a corda para o cara que já tem a vitória continue ganhando... Ô, macho véio, se você é esse cara, é bom procurar um terapeuta ou pedir um consignado.


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Aqui em Pindorama tivemos duras correções de rotas, que levaram a acertos e erros – e alguns outros países por aí também - nas tentativas cada vez mais frustrantes de acertar nas eleições proporcionais e majoritárias. Nas proporcionais, desde sempre, leva vantagem quem possui o poder econômico, quem se associa a loobys e consequentemente manda nos destinos do país. As majoritárias normalmente acabam dependentes e reféns das primeiras. Sempre se fala que nestas terras não se sabe votar, e é verdade. A educação da população é baixa, a segregação em classes e a pobreza perpetuada fazem com que o patamar de entendimento sobre justiça social seja insuficientemente forte para que a barreira seja rompida. Responsabilidade de quem detém a lanterna só para si enquanto a ignorância e a escuridão prevalece para os demais.

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Aqui, nesse país distópico, desde lá de trás fizeram questão de misturar as coisas na cabeça dos “brasileirinhos” e agora, mais de três décadas, precisamos tentar separar as coisas para que todos possam entender. Quando China, a antiga União Soviética e as Alemanhas (que se uniram) abrindo a cortina de ferro para uma economia de mercado, a história decantada na ditadura de minha infância que, se o comunismo chegasse, ia tomar os bens do indivíduo para dividir entre toda a nação, e que o comunista come criancinha, entre outras bobagens, caíram. Ou seja “corre atrás do seu dindin, Dimitri!” “Não corre atrás, não para você ver, Cheng...”. Ou seja o medo infantil do “comunismo” (as vezes a palavra dita parece uma entidade espírita, rsrs...) a “tomar o patrimônio do seu porquinho” deixou de existir, exceto no discurso conceitual, onde a estratificação social é gigante em alguns países, como aqui, em Terras de Vera Cruz. Pau Brasil por espelhos e miçangas. Tem uma paradinha errada, não?! Sacou, macho véio ?!

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Daí, o que era a pauta principal da chamada esquerda caiu por terra junto com o Muro e a Guerra Fria. Os holofotes então se voltaram, para as pautas sociais e identitárias. Ou seja, garantias individuais para quem não tem garantias - ou são elas precárias - e não só para alguns. Parece o mais justo agora, não?!

Entretanto, até hoje, há um entendimento torto do que o sujeito pode ou não fazer com sua vida, gerando debates insanos entre pessoas que querem o progresso para todos e os autointitulados conservadores, local onde encontramos o macho véio - aquele que soltou da corda no cabo de guerra, lembra (?) ” - como se tudo que trata da defesa de grupos étnicos ou identitários o afetasse. O cara não consegue limitar-se a cuidar da própria vida. Ele, macho véio, quer ser um cara pálida, como um guardião de uma moral que não lhe diz respeito. Ao invés de ter as suas preocupações voltadas para o disparate socioeconômico que é imposto - aí sim, a TODOS(!) - quer se preocupar e fazer galhofa do cú do do coleguinha ou da coleguinha, por exemplo. Quer impor barreiras às etnias ou classes. Quer garantir que o sujeito que já tem muito, continue ganhando mais ainda enquanto os demais - e ele mesmo - permanecem pisando no mesmo estrume.

Caem na teoria estúpida de que todas as TV’s e jornais que divergem da sua estupidez, manipulam as mentes enquanto ele mesmo é manipulado pelo tiozão ou tiazona do Whatsapp. Como se todas as pessoas que divergem dele não pudessem ter qualquer fonte de informação nas mãos. Hoje basta o sinal da operadora ou do WiFi, dar uma googlerizada correta, e pesquisar sobre os fatos para tomar suas decisões. Assim "tá ficano défíciu" né, macho véio. Não dá para esquecer das inusitadas histórias da mamadeira de piroca e kit gay que povoaram a última década espalhadas por uma porção de "machos véios".

Hoje, o macho véio repete o mantra que aprendeu com os detentores de um capital - que ele não tem, mas acha que tem - e dos que pretendem se perpetuar no poder a custa da ignorância: “zou liberal na economia e gonservador nus custumes. Acha, inclusive, um lema fantástico como todos os bordões que decorou no Twitter para atacar o que ele chama de “esquerdalha comunista” e vai juntando memes para disparar na rede quando precisa "marcar posição". O problema mais grave é quando toca o berrante e ele sai fantasiado de CBF para Copacabana adesivando a bandeira do Brasil no capô do Celta, com arma na cintura, se achando patriota. Não, macho véio, isso não é patriotismo, é um perigo social.

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Passamos pelos descaminhos sempre. Um dia a gente acerta o passo e anda todo mundo junto. Misturado como nossas raças. Sem pataquadas ou bravatas.

 

 

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