domingo, 10 de fevereiro de 2019

Distante das tragédias humanas, das lamas visíveis, das cinzas, ou fumaças tóxicas, fui menino.
Um garoto quieto com um cachorro no quintal e bola nos pés cascudos de cimento e asfalto. Perto do Maracanã, alguns que viveram isso, sabem como deuses são efêmeros e outros eternos.

Eu, ao lado, na Vila de Noel, fugia para jogar pelada. Quando não, para jogar botão. Vícios do esporte bretão. Numa dessas, como é próprio dos meninos de sete ou  oito anos, parti com meu saquinho de pano carregando os maiores craques de galalite da Papelaria Kapel da Praça Sete e goleiro de caixa de fósforos, enfrentar os craques de outro moleque da escola. Minha tia, costureira,  tomava conta de mim, enquanto minha mãe trabalhava numa empresa e só voltava à noite. Não, elas não sabiam de minhas "aventuras" .

13:45.
Na Globo AM tocava Roberto Carlos - "Valdir Vieira/ um cara tão legal..." , dizia o jingle . Eu devia estar brincando por ali enquanto o motoradio estava ligado e a máquina de costura fazia seu "nhenhenhenhe" frenético.

14:45.
- Clayton... - ela chamava e eu não respondia. "Deve estar no quintal jogando bola sozinho".

Um colega da escola, um garoto chamado Tony, que morava uns cem metros da minha casa num prédio da mesma rua - logo ali, ó - já tomava um sacode dos meus craques e pedia seguidas revanches.

15:45
Minha tia desesperada procurando por mim pela casa. Não. Não estava por ali. Precisava fazer alguma coisa. Onde foi parar esse menino?
Vai para rua. Vão juntos meu irmão e meu primo para ajudar a procurar.

16:45
Portão do prédio do Tony.
- Mas que moleque!!! Como é que você sai assim se avisar!!! Onde você estava??? - gritava enquanto segurava minha orelha.
-Para, Té! Eu fui jogar botão na casa do Tony!!
Seus dois acompanhantes na busca riam divertidos da minha agrura enquanto eu era levado pela rua, seguro pela orelha até em casa.

Que desespero. Não o meu. O dela. Que cuidava como mãe. Que zelava como mãe. Que amava como mãe.

Fico aqui lembrando de dezenas de histórias boas, enquanto ela nos deixa. Nove décadas e um pouquinho. Um sopro de amor pela vida.
Beijos de seus muitos sobrinhos. Para uns tia Pátria, para outros tia Zizinha, para mim, "Té", minha tia, madrinha e mãe de coração.

Vou ficar com saudades. Vamos todos ficar com saudades. Muitas.

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