Não se falavam mais. Dois dias de
silêncio
Ele levantou e encaixou os pés
meticulosamente nos chinelos colocados sobre o tapete. Ela tinha espalhado no
chão do seu lado na cama a calça do pijama do avesso, o celular e o carregador
com o fio pendurado, um pé da pantufa da Minie e um dos muitos travesseiros que
o casal mantinha na cama.
Dois anos juntos. Juntos,
quarenta e quatro anos. Sozinhos, vinte um e vinte três.
Quando ela levantou e ele já
escovava os dentes com a porta da suíte fechada. Ligou a TV e um careca com
fones de ouvidos falava alterado olhando para um computador qualquer.
Quando saía do banheiro, o
sagrado ritual de vestir-se para o trabalho prosseguia. Sapatos limpos,
lustrosos e caros - igual ao sogro. Uma leve água de colônia. Iphone último modelo sobre a mesa
do café. Esporte fino, chaves do carro. Beijo protocolar e tchau. Dois dias sem beijos, mesmos protocolares.
Tchau ?!
Apertou o controle em um número
qualquer e colocou no canal Bloomberg. Ele assistia isso todos os dias antes de
ir trabalhar, hoje não. Alguém falava em inglês e ela não entendia. Números
passavam freneticamente no rodapé da tela. A vida dele era um saco.
A dela? Não, a dela não. Ela
fazia brigadeiros.
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