sexta-feira, 1 de fevereiro de 2019

BODAS DE ALGODÃO (miniconto)




Não se falavam mais. Dois dias de silêncio

Ele levantou e encaixou os pés meticulosamente nos chinelos colocados sobre o tapete. Ela tinha espalhado no chão do seu lado na cama a calça do pijama do avesso, o celular e o carregador com o fio pendurado, um pé da pantufa da Minie e um dos muitos travesseiros que o casal mantinha na cama.

Dois anos juntos. Juntos, quarenta e quatro anos. Sozinhos, vinte um e vinte três. 

Quando ela levantou e ele já escovava os dentes com a porta da suíte fechada. Ligou a TV e um careca com fones de ouvidos falava alterado olhando para um computador qualquer.

Quando saía do banheiro, o sagrado ritual de vestir-se para o trabalho prosseguia. Sapatos limpos, lustrosos e caros - igual ao sogro. Uma leve água de colônia. Iphone último modelo sobre a mesa do café. Esporte fino, chaves do carro. Beijo protocolar e tchau.  Dois dias sem beijos, mesmos protocolares. Tchau ?!

Apertou o controle em um número qualquer e colocou no canal Bloomberg. Ele assistia isso todos os dias antes de ir trabalhar, hoje não. Alguém falava em inglês e ela não entendia. Números passavam freneticamente no rodapé da tela. A vida dele era um saco.

A dela? Não, a dela não. Ela fazia brigadeiros.

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