segunda-feira, 20 de maio de 2019

POESIA DE SMARTPHONE

Antes eu trocava a fita
sujava os dedos
no tecido negro e rubro
Furava a seda da Olivetti
Tek-tek-tek

Usava limpa-tipos
Folhas A4, Correto Carbex
Missivas em posta restante
Postais de um lugar distante


Tempos passados querida...
Hoje é tudo num instante

Hoje meu mindinho apoia meu verso
enquanto o polegar vacila
entre o amor 
e o horror ao corretor

Faz plim quando ela chama

Infla meu peito
Satisfaz meu ego macho-alfa
"Manda nudes meu bem..."

Aquele jeito, aquela chama
Em tempos modernos
Até o vício solitário é diferente
Tem um giga de velocidade

Não é fake, é maldade 

Portanto a paixão de improviso
agora circula em ondas de um 4G
Não mais nas mucosas do ponto G

Sabe lá o que é isso?

No "hifi" eu dançava colado
Sussurrava segredos
Embaraços ao pé do ouvido

Agora ?? Duvido !!!

Muda a letra 
Sai "h" entra o "w"

E no "wifi" de hoje
Só a senha é o desejo
Pode crer! Mais que um beijo!

Pois que venham !!

Noites insones em zaps da vida
Paracetamóis virtuais
Boleros em pacotes de dados
Substituição da solidão
Por mais solidão

A vida no modo avião 
Ansiedades aflitivas
Por respostas imediatas
Obsessivas
Obsessões
por notícias,
Por sinais

Por torturantes áreas de cobertura
Premissas falsas
Verdades ora irrelevantes 
que os bits nos aproximam
E nos trazem paz

Por hora, querida.
Não mais.



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