quarta-feira, 3 de maio de 2017

LAPA


Janela aberta e alguém toca "Wave" de Jobim no sax. Os carros passando apressados para algum destino longe daqui. Buzinas manifestam urgência. O sax ataca de Burt Bachara - música daquele filme... Daquele, lembra...?  Jovens da escola de música se aproximam lentamente com caixa, surdo, tamborins, e uma base de metais tocando "Madagascar - a ilha do amor".
O dono do pub abre as portas e de lá se ouve acordes de "She sells sanctuary".
O travesti entra na padaria para comprar pão doce.
Segundo a caixa do estabelecimento ele, ou ela - titubea - é muito simpática e educada. Diferente das outras "travecas"...
Alguém derruba uma caixa de garrafas vazias. Em algumas mesas, o líquido consumido é devolvido de tempos em tempos de micções alcoólicas. Dizia um bom amigo: se for a primeira vez, vai passar a noite precisando dos serviços sanitários da casa.
Os copos cheios escorrem gotículas geladas de conversas vãs.
A política. A polícia. A problematização de tudo. A graça por nada.
O riso do encontro. A voz embargada do desconforto.
A moça gorda de short velho vem pedir dinheiro. Outra se aproxima vendendo bala de menta. A poeira da fumaça do 434 é despejada na porção de batatas.
O suor no rosto e o fardo do dia. O desabafo e os filezinhos com cebola encharcados de óleo e sem tempero.
As quatro da mesa ao lado e os três da mesa a frente. Sobra uma. Desencontros e o saxofonista toca "Eu te amo".

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